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A Seleção Natural dos Condomínios

Qual é a semelhança entre a vida nos condomínios e a teoria da evolução de Charles Darwin? As semel­­­­­­­hanças são muitas: parece que as leis da evolução atuam sempre que surge uma nova Galápagos. E os condomínios são, no melhor sentido possível, novas Galápagos urbanas. A explicação é que, nessas comunidades, as pessoas aprendem a interagir com seus pares, em função das regras que, ao contrário do que ocorre na moradia autônoma, a vida comunitária dita. Tal como as espécies vencedoras de Darwin, aprendem a se adaptar.

Segundo o grande naturalista inglês, o poder de adaptação é um forte traço de vitória. Obviamente nem todos conseguem mas a maioria sai vitoriosa e melhor do processo. Surge um novo tipo de cidadania e um ser humano mais cordato, menos “esperto”. No momento em que a cidade se tornar quase totalmente vertical, o resultado dessa interação será ainda mais benéfico a todos.

No condomínio, o morador, com o tempo, esquece de quando reinava absoluto na moradia que chamamos de “autônoma”. Na vida condominial, não há essa liberdade real e todos são beneficiados por tal restrição. O rateio das despesas é uma advertência perene para os gastadores egoístas. Com a chegada do hidrômetro individual para cada unidade do prédio, esse morador perdulário pensa no próprio bolso e se torna melhor para si e para todos os demais moradores. Os volumes de ruído tendem a manter uma frequência de decibéis compatível com a convivência do dia a dia e isso vale tanto para jogos de futebol na televisão ou latidos.

Ao contrário do que acontece nas ruas, onde voltamos a ser egoístas, é mais fácil aprender a não invadir a vaga alheia no estacionamento do condomínio. A escola de cidadania que a vida comunitária representa nos ensina, todavia – ao contrário da teoria de Darwin – a sermos menos competitivos. Na verdade não existe  a necessidade de demarcar território. Esse poder de adaptação é puro talento animal ou humano. O condomínio pode nos ensinar a ser bons cidadãos dentro e fora dos seus muros. As ruas agradecem porque podem interagir com os bons cidadãos advindos da vida condominial alhures.

A escola de cidadania dessas comunidades  é uma faceta nova em nossa realidade. Por enquanto temos de esperar um pouco até que todos os moradores de condomínios possam aprender as lições que a vida  coletiva oferece. Ainda existem em boa quantidade aqueles moradores não adaptados. Alguns por real dificuldade, outros por pura inércia.

Às vezes a culpa é também do síndico e de seu corpo diretivo. O próprio síndico pode não se adaptar. É por essa razão que o “síndico externo”, aquele que não mora no empreendimento, passou a ser uma figura cada vez mais comum no segmento. Seja o morador comum, seja o próprio síndico, o processo de adaptação é o mesmo da seleção natural de Darwin. Alguns jamais conseguirão se ajustar. Esses serão excluídos da evolução que Darwin percebeu em suas viagens. O morador que não conseguir se adaptar é uma espécie perdedora.

Hubert Gebara é vice-presidente de Administração Imobiliária e Condomínios do Secovi-SP e diretor da Hubert.