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Os Limites da Tecnologia

A corrida tecnológica chegou para ficar. Não há como resistir à sua   força tectônica. Nos condomínios, não é diferente. A tecnologia vai, de forma avassaladora, sendo vista como um antídoto para muitos problemas, entre eles a segurança que precisamos ter em nossas unidades autônomas e também nas áreas comuns do empreendimento, onde transitamos com nossa família. A tendência é fazer dessa tecnologia reluzente o nosso alter ego.

Temos de respeitar a força protetora de um correto aparato eletrônico de segurança, especialmente em tempos de crise, quando o desemprego atinge números recordes e quando a mídia fala em “a maior crise de nossa história”. Não há como negar a influência direta ou indireta dos números da economia na segurança das ruas e dos condomínios. A conexão é óbvia. Ao ouvir as notícias da crise, ficamos preocupados com a situação dos desempregados. Isso entretanto não impede de darmos uma segunda volta em nossas fechaduras.

Mas há um problema: nos condomínios, o aparato tecnológico não poderá ser “total”. Se assim for, vamos desempregar funcionários e estaremos colaborando com a crise. Tecnologia é redução de nossos custos com pessoas e coisas.

A tecnologia impõe seus próprios limites. O material humano, que podemos chamar de realidade não virtual, tem de ser a base da operação. Sãos as nossas mãos que movimentam a tecnologia. Nós a criamos; o perigo está em deixar nossa invenção sair de controle, como na história do feitiço que se volta contra o feiticeiro. Além do mais essa tecnologia continua controversa para muitos que sabem lidar com ela, e indecifrável para muitos ainda não alinhados com suas nuances. Em condomínio com moradores de faixa etária avançada, ela pode ser um fator de desconforto. Esses moradores relutam ou simplesmente não conseguem falar o dialeto digital. A portaria eletrônica, que desemprega o porteiro que podia ser chamado pelo nome, pode ser crucial para quem não consegue, por exemplo, utilizar o acesso com o recurso da biometria. Nosso dedo nem sempre acerta a posição milimétrica de compressão no leitor biométrico.

Ainda nos condomínios, os elevadores movidos a comandos digitais podem não ser também o caminho mais fácil para quem não domina o mundo dos chips. Seja como for, a questão da tecnologia como fator principal de nossa segurança merece ser bem analisada. Fora da tecnologia, há muito o que prover para a segurança dos condomínios residenciais ou não, e isso, idealmente, é um cuidado que deve ser tomado desde a prancheta.

Começar o planejamento dos itens de segurança desde a prancheta deveria ser uma regra de ouro para incorporadoras, construtoras e todos os profissionais envolvidos nos projetos. Altura exata dos muros, posição da guarita, desenho das áreas comuns e das vias de acesso internas são quesitos que devem ser pensados visando à segurança do empreendimento, no momento em que ele for instalado. Não depois. É trabalho de especialistas e as administradoras podem ajudar muito, se forem convocadas para participar ainda nessa fase de concepção do empreendimento. Especialistas em segurança também poderiam participar. Com esse projeto bem delineado, a tecnologia pode atuar como fator coadjuvante em lugar de fator principal para a nossa segurança.

Hubert Gebara é vice-presidente de Administração Imobiliária e Condomínios do Secovi-SP e diretor da Hubert.